Quem tem mais 50 anos deve saber tudo sobre herpes-zóster, popular cobreiro
A doença é popularmente conhecida como cobreiro. O que pouco se fala a respeito do herpes-zóster (HZ) – nome científico da enfermidade – é sobre as graves consequências que vão desde uma dor incapacitante que pode perdurar por meses e necessita de medicamentos fortes como a morfina para ser aliviada até o comprometimento da visão e da perda de audição. A incidência também é alta. “Ao longo da vida, um terço da população irá desenvolver herpes-zóster”, afirma a médica Marilene Lucinda. Isso por que 90% dos adultos brasileiros são soropositivos para o varicela-zóster (VVZ), que é o mesmo vírus que causa a catapora. “No Brasil, o contato com o vírus ocorre no início da infância. Um estudo que incluiu crianças e adolescentes de 1 a 15 anos nas escolas públicas no estado de São Paulo observou alta proporção de soropositivos na faixa etária de 1 a 3 anos de idade, ascendendo até os 10 anos e mantendo-se estável em cerca de 90% a partir dessa idade”, reforça a especialista.
A conclusão é simples: quase todos os adultos do país estão sob o risco de desenvolver a doença. E é a partir dos 50 anos que aumentam as chances de evolução, complicações, hospitalizações e óbitos em função do HZ, já que é nesta fase da vida que o sistema imunológico começa a envelhecer e há uma queda na proteção do organismo, que fica mais exposto a doenças.
A melhor forma de prevenir o HZ é não ter tido contato com a varicela durante a infância. Por essa razão, a vacinação contra a catapora é tão importante. “Uma criança vacinada contra a catapora nunca terá herpes-zóster”, afirma a responsável técnica do serviço de vacinas do Hermes Pardini, Marilene Lucinda. Como a vacina contra a catapora – que tem 97% de eficácia – passou a ser oferecida pelo SUS no ano passado, o que se pode fazer no presente para proteger a população que já teve contato com o vírus? A resposta está também na imunização. Utilizada nos Estados Unidos desde 2006, a vacina de dose única contra o herpes-zóster acaba de chegar ao Brasil na rede privada ao preço médio de R$ 600 e é recomendada para pessoas acima de 50 anos. Marilene Lucinda diz que dois terços dos casos da doença ocorrem em indivíduos nesta faixa etária. Segundo ela, 50% das pessoas que têm HZ vão sofrer de neuralgia pós-herpéstica (leia para saber mais), caracterizada por uma dor crônica e intensa. “É tão debilitante que o paciente não consegue fazer nada e precisa ser internado em uma clínica de dor”, reforça.
Para pessoas menores de 30 anos, a vacina não é indicada. Para quem tem entre 30 e 50, é necessária uma prescrição médica. “Temos um único estudo que avalia o resultado da vacina entre pessoas de 30 a 50 anos que já tiveram herpes-zóster e foram imunizadas. Os resultados foram satisfatórios tanto em relação à eficácia quanto à segurança”, explica Marilene. Como a vacina existe há pouco tempo (oito anos), o que os estudos têm sinalizado, segundo a especialista, é que a proteção é prolongada. Ou seja, não precisa de reforço.
Marilene Lucinda diz que eficácia da vacina é de 70% tanto para casos novos quanto para os de reincidência. “O desenvolvimento da doença não contém o risco de novo contágio”, explica a médica. Além disso, segundo ela, a vacinação diminui as brechas para as consequências graves e também para a dor, um dos principais sintomas da doença que incapacita o paciente para qualquer atividade. “Estudos clínicos da vacina incluíram mais de 60 mil indivíduos. Em geral, ela foi bem tolerada, sendo a maioria dos eventos adversos limitados a reações no local da injeção”, esclarece. A especialista diz ainda que o percentual de eficácia da vacina é considerado bom pela medicina.
Para ela, a chance de a imunização contra o HZ chegar ao serviço público é pequena e, em nota, o Ministério da Saúde confirma: “No momento, não está prevista a inclusão desta vacina no Sistema Único de Saúde (SUS). A inclusão de novas vacinas no SUS leva em consideração vários critérios que devem ser cumpridos para que a implantação aconteça de forma estruturada: epidemiológico, imunológico, sócio-econômicos, custo efetividade, tecnológicos, operacionalidade e financeiros”.
A vacina da HZ é diferente da vacina da catapora apesar de as duas serem causadas pelo mesmo vírus (varicela). “A da herpes-zóster é para evitar a reativação do vírus. Assim, a potência dela é 14 vezes maior que a da catapora, ela estimula a produção de anticorpos muito mais intensamente”, esclarece Marilene Lucinda.
Entenda a doença
”Eu não queria que você citasse o meu nome. Tenho medo de preconceito porque trabalho no meio de muita gente… Eu nunca tinha ouvido falar em herpes-zóster. Quando as bolinhas apareceram eu achei que era cobreiro. Só que começou a dar pus e resolvi procurar um médico. Latejava muito. Você sabe que a doença dá em quem já teve catapora? Tive que parar de trabalhar por uma semana por causa da dor. Dois dias depois que comecei a tomar o remédio, a dor começou a passar. As bolinhas começaram a secar com uma semana, também usei uma pomada para ajudar. Eu só tinha ouvido falar de herpes na boca, quando o clínico me disse que era herpes-zóster fiquei assustada, achei perigoso, fiquei com medo de contaminar meu sangue, de contaminar meu parceiro. É sério que tem vacina? Mas quem já teve precisa tomar? É uma doença muito incômoda, acho que eu tive porque chorei muito com saudade dos meus filhos. Eles moram em Belo Horizonte e eu em Divinópolis”. – E. J. F é cobradora de ônibus e tem 57 anos.
Mesmo após a experiência com o herpes-zóster, o depoimento da cobradora de ônibus é repleto de conceitos errados sobre a doença. Para começar, é importante esclarecer que a enfermidade não tem nenhuma relação com a herpes simples, caracterizada pelas vesículas que aparecem nos lábios e que podem acometer também os genitais. O medo de contaminar outras pessoas e ser vítima de preconceito também não procede. Embora seja causado pelo mesmo vírus da catapora, que é transmitida de pessoa para pessoa, o herpes-zóster não é contagioso.